quinta-feira, 21 de março de 2013

Recordações de uma Infância Feliz II

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Dado que, na Avenida da República existia muito pouco comércio, era na Rua de Entrecampos que fazíamos as nossas compras.
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No caminho, passávamos pela Rua José Carlos dos Santos onde existia uma padaria com fabrico de pão (e como eu gostava de ir ver os padeiros tirarem os pães quentinhos do forno - ali também mandávamos assar cabritos, perus, etc.); Quase em frente, existia a Mercearia do Sr. Maximino (que, depois, passou a café) onde nos abastecíamos (e como eu gostava de, nas férias-escolares, ir para lá ajudá-lo a arrumar as prateleiras, etc.); mais acima, existia a florista do Sr. Albano, onde costumava comprar flores para oferecer; já na esquina com a Rua de Entrecampos, estava uma papelaria que pertencia a um Sr. Carvalho; quando este se mudou para o Alto de Stº Amaro (Estudantina), onde vim encontra-lo quando ali passei a viver, passou a ser gerida por um Sr. Brito; na Rua de Entrecampos, existia outra Papelaria (do Sr. Zé) onde, quando vínhamos da Escola Primária do Bairro de S. Miguel, comprávamos estalinhos, bichas-de-rabiar e outros adereços de Carnaval; Mais à frente, existia um pequeno café, onde costumava comprar os rebuçados para as coleções de cromos; Seguia-se um lugar-de-hortaliças, que hoje em dia está transformado num conhecido Restaurante; contíguo a este, estava a entrada de uma Quinta, onde vivia o meu amigo J.A.R. (e como eu adorava ir para lá, brincar nas antigas capoeiras, ou com os peixes que existiam no tanque de rega; Um Tio desse meu amigo, que era o abegão da Quinta, ainda lá tinha umas vacas e, muitas pessoas, iam lá buscar leite acabado de mugir. Esta Quinta estendia-se quase até ao Aeroporto, e os Bairros de S. Miguel, Alvalade, etc. foram construídos em seus terrenos. Hoje em dia, até o seu Palacete (decorado com lindos azulejos, e com um belo repuxo no jardim), foi demolido para dar lugar a um edifício da P.T. .
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Frente a esta Quinta, a caminho do Apeadeiro (hoje Estação) de Entrecampos, existe um chafariz (onde íamos buscar água, quando havia cortes da EPAL). Atravessando a passagem-de-nível, a caminho do Campo-Pequeno, existia uma antiga capelista, uma fábrica de gressinos e uma loja de utilidades (onde costumava comprar presentes para oferecer); Em frente, um Convento de Freiras, onde frequentei a catequese e íamos à missa.
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Muitas compras faziam-se sem ser preciso sair de casa : de Caneças vinham as lavadeiras e as bilhas de água fresquinha; marçanos, iam entregar as mercearias a casa; varinas apregoavam o seu peixe na rua, e colocavam-no num cesto que descíamos da varanda; ardinas, mandavam os jornais para as janelas; e, na época da caça, a mulher de um caçador levava-nos, numa alcofa, perdizes, lebres, galinholas, coelhos-bravos ...
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Quando era preciso fazer compras maiores, metíamo-nos num eléctrico até ao Saldanha (antes das obras do Metro, existiam eléctricos que vinham do Lumiar para o Martim-Moniz - pelo caminho entretinha-me a apreciar os lindos Chalets -que existiam dos dois lados da Avenida, alguns Prémios Valmor- e que, hoje em dia, foram quase todos substituídos por gaiolas de betão) onde, na antiga Praça do Matadouro (atual Sede da P.T.), existia grande variedade de legumes, carnes, peixes, etc. Na Duque de Ávila, comprávamos um lote de café Cabo Verde/Timor (moído na altura), e produtos de charcutaria (na Dava). No regresso, costumáva-mos ficar no Campo Pequeno, onde existia a Pastelaria Ideal da Avenida (de uns Srs. Silva), onde me deliciava com um dos seus deliciosos éclairs.
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Da janela do 4º andar, onde passava longos momentos (relatando a passagem dos autocarros, ou contando o número de "carochas" que passavam - pelo Carnaval, enfeitavam-se as varandas com serpentinas e, na noite de Santo António, queimavam-se alcachofras e lançava-se fogo-de-artifício) avistava-se, antigamente, o Depósito Geral de Gados (os comboios traziam vagões carregados de reses diversas, que ali eram descarregadas e apartadas, para seguirem para o matadouro da Fontes Pereira de Melo); com a transferência do matadouro para os Olivais, aquele depósito foi desactivado dando, posteriormente lugar à saudosa Feira Popular (onde passava as minhas noites de Verão). A vista prolongava-se por hortas (onde ainda existiam "picotas" - e que deram lugar à sede da Marconi e ao Bairro Santos), até à Serra de Monsanto (onde, à noite, se podiam avistar os focos dos holofotes das baterias anti-aéreas). Mas, a melhor vista, era quando se verificavam as inundações : durante muitos anos, sempre que chovia com mais intensidade, toda a área entre o Campo Grande e o Campo Pequeno ficava alagada e, principalmente, sob o viaduto do caminho-de-ferro, atingia considerável altura (muitas vezes, para entrar em casa, tinha que arregaçar as calças, e descalçar sapatos e meias); mas logo que chegava a casa, corria para a varanda para ver o espectáculo : dos bombeiros a resgatar pessoas que ficavam empanadas nos carros, ou de peões que se aventuravam a atravessar a Avenida e, tropeçando nos passeios, caíam de chapuz na lama...
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Enfim, um fartote !
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Picareta Escribante

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