quarta-feira, 12 de março de 2014

Cultura Divertida

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Na sequência do artigo anterior, e porque gosto de dar exemplos práticos das minhas Sugestões, quando afirmei que era possível levar-se a Cultura até ao Povo (aligeirando-a - sem desvirtua-la, - pois qualquer iniciação não pode ser feita a partir das matérias mais complexas), apenas referi o que pode ser realizado quanto à Literatura; Mas é na Música que muito melhor pode ser feito pois, sendo uma linguagem-universal, mais facilmente toca as pessoas.
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Nós por cá, temos a mania de levar tudo muito a sério: logo que alguém adquire alguns conhecimentos não acessíveis a todos, em vez de partilhá-los de uma forma agradável com os restantes, logo se fecha numa redoma-de-vidro, tornando-se intocável através de uma excessiva formalização e teorização de qualquer partilha daqueles.
E, qualquer pessoa que tente interpretar a vida de forma mais divertida, logo é rotulada de louca.
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Enquanto que, por exemplo, em Países Civilizados :
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- Nos Londrinos "Concertos-Promenade", o maestro voltava-se de costas para a orquestra e passava a reger o público.
- Nos Concertos de Ano-Novo da Filarmónica de Viena, há sempre músicos que executam umas brincadeiras.
- André Rieu transforma cada Concerto num Festival, em que toda a Orquestra participa.
- Nigel Kennedy , um exímio violinista, actua em palco como se de um rockeiro se tratasse.
- O Grupo Mozart, composto por excelentes músicos-clássicos, proporciona concertos de Risoterapia.
- O grande Pavarotti, não hesitava em juntar-se a músicos-ligeiros cantando, com eles, êxitos destes.
Etc. etc. etc.
Qualquer deles fez mais pela divulgação da Música-Clássica, que um batalhão de empertigados músicos formais.
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Mas, por cá, até qualquer Grupo-de-Folclore, ou Fadista-Amador, leva as suas actuações tão a peito, que se recusa interpretar variações divertidas dos seus temas. 
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Vamos a um qualquer encontro de Grupos-de-Cavaquinhos ou de Fadistas, por exemplo, e quase todos eles tocam as mesmas músicas (as mais fáceis de interpretar), ou cantam as mesmas estafadas letras.
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Já que, na música, é difícil introduzir inovações, ao menos que se distingam por alguma originalidade com novas letras (e - porque não - jocosas, pois existem temas no nosso folclore, bastante propícios a serem caricaturados; para além de, desta forma, animarem muito melhor a assistência);
Eis, apenas, alguns exemplos :
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Rapsódia Alentejana:                                                          
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Os mês olhos, de chorar
Fizeram poças no chão;
Não d´agua, qu´ê nã sê nadar
Mas de tinto, do carrascão...
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Eu ouvi ´ma cotovia
Às quatro da madrugada;
Há qu´anos que te não via
A taxa tã´rreganhada...
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Fui esta nôte ao castelo
Lá me chamaram lambão
Por eu colher uma rosa
Que tava ali mesmo à mão...
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Tou ficando com fominha
Vem correndo amor, senão
Não sobra nem ´ma sardinha
Nem pinga no garrafão ...
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Os tês olhos, negros negros
São negros com´um tição
Abre bem esses ólhinhos
Pr´eu ver-te na escuridão...
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Tenho pena, lind´amor, tenho pena
Tenho pena, lind´amor, tenho dó
De fazeres ´ma ganda cena
Por dançarmos um forró.
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Eu passei à do tê portado
Pedi-t´agua, bubi vinho
Agora, já tou avisado
Vou trazer um pucarinho...
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A moda das trancas pretas :
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Como era lindo, com seu ar namoradeiro
Té lhe chamavam Menino das trancas pretas
P´lo Chiado caminhava o dia inteiro
Apregoando leggings, com "braboletas"
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E os raparigos d´alta roda que passavam
Reparavam em seus pelos, de tão belos
Quando ele olhava, com vergonha disfarçavam
E, pouco a pouco, todos deixaram cresce-los
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Passaram dias e os meninos do Chiado
Nas trancas punham, só meias de "berbletas"
Todos gostavam do seu ar ameninado
E assim nasceu a moda das trancas pretas
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O rapazola, mudou-se pr´á Esperança
Deixou saudades, mesmo muitas saudadinhas
Tá o Chiado, e o Carregado, com mil trancas
Mas trancas pretas, ninguém tem com´ele tinha...                                                                                      

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NelitOlivas

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